Na área anterior utilizamos uma descrição vetorial para definir curvas no espaço $\mathbb{R}^3$. Nesta área vamos tratar de superfícies no espaço, isto é, objetos de dimensão $2$ que habitam $\mathbb{R}^3$
Uma definição precisa de superfície é a seguinte
Definição de superfície |
Uma superfície $S$ em $\mathbb{R}^3$ pode ser descrita como um conjunto de pontos $\left( x,y,z \right)$ que satisfaz uma equação da forma \[ f\left( x,y,z \right) = 0 \label{defsup} \] sendo $f$ uma função continua |
A forma da expressão matemática da equação $\ref{defsup}$ é conhecida como representação implícita da superfície. Se for possível expressar alguma das variáveis em termo das outras variáveis, como em \[ z = f(x,y) \nonumber \] chamaremos a esse tipo de representação de forma explicita da superfície. Veremos mas adiante que é possível localizar os pontos utilizando uma representação vetorial para isso, algo do tipo \[ \mathbf{r}(u,v) = f(u,v)\,\mathbf{i} + g(u,v) \,\mathbf{j} + h(u,v) \,\mathbf{k} \nonumber \] Obviamente podemos ter também uma representação paramétrica constituída pelas componentes do vetor.
A representação paramétrica ou vetorial nos permitira expressar de forma simples equações que nem sempre são funções mas que expressam a superfície $S$, lembre que numa função não podemos ter mais de um ponto $f(\vec{r})$ para um dado $\vec{r}$:
Quando estudamos a representação paramétricas das curvas no espaço utilizamos um único parâmetro para isso, dado o fato de que o objeto a ser descrito era em essência unidimensional. No entanto, se queremos parametrizar uma superfície será necessário a utilização de dois parâmetros para identificar cada ponto, já que o objeto a ser descrito é bidimensional.
Definição |
Uma parametrização de uma superfície $S \subset \mathbb{R}^3$ é uma função $\displaystyle \mathbf{r}:D\subset \mathbb{R}^2 \to \mathbb{R}^3$, onde $D$ é algum domínio em $\mathbb{R}^2$. A imagem da função $\displaystyle \mathbf{r}$, corresponde à superfície $S$, isto é, $S=Im\left( \mathbf{r} \right)=\mathbf{r}\left( D \right)$. A expressão geral para $\displaystyle \mathbf{r}$ é \[ \mathbf{r}(u,v) = x(u,v) \,\mathbf{i} + y(u,v) \,\mathbf{j} +z(u,v) \,\mathbf{k} \nonumber \] Se $\displaystyle \mathbf{r}$ é diferenciável ou de classe $C^1$ (o que significa que $x(u,v)$, $y(u,v)$ e $z(u,v)$ são diferenciáveis ou de classe $C^1$) então diremos que a superfície é diferenciável ou de classe $C^1$ |
A grande maioria dos autores prefere parametrizar a esfera utilizando coordenas esféricas, $\left(\rho, \phi, \right)$, as quais são facilmente obtidas a partir da figura embaixo
\[ \begin{align*} x =& r \cos \,u\;\sin\, v\\ y =& r \sin \,u\;\sin\, v\\ z =& r \cos\, v \end{align*} \] onde $\displaystyle 0 \leq u \leq 2\pi$ e $\displaystyle 0 \leq v \leq \pi$
No livro da Diva temos uma outra parametrização alternativa à anterior
\[ \begin{align*} x =& r \cos \,u\;\cos\, v\\ y =& r \sin \,u\;\cos\, v\\ z =& r \sin\, v \end{align*} \] onde $\displaystyle 0 \leq u \leq 2\pi$ e $\displaystyle -\pi/2 \leq v \leq \pi/2$
Seja $C$ uma curva plana e $L$ é uma reta que não está situada no mesmo plano da curva $C$. O conjunto de retas paralelas a $L$ que interceptam $C$ é chamado de cilindro.
A curva $C$ é chamada de diretriz e a cada reta que passa por $C$ e é paralela a $L$ é chamada de geratriz do cilindro.
Para parametrizar um cilindro, parametrizamos a curva $C$ utilizando o parâmetro $u$ e as geratrizes são parametrizadas com o parâmetro $v$.
Assim, se $\beta$ é a diretriz e $\mathbf{v}$ é a geratriz, então uma equação geral para um cilindro é \[ \mathbf{r}(u,v) = \beta(u) + v\mathbf{q} \nonumber \] onde $\beta(u)$ é a parametrização da diretriz.
Como exemplo temos o cilindro circular reto, cujas geratrizes são perpendiculares às diretrizes, as quais são círculos. Sabemos que a parametrização do círculo, localizado no plano $xy$, está dada por \[ \mathbf{r}(u) = a\cos \,u\,\mathbf{i} + a\sin\, u \,\mathbf{j} \nonumber \] Para a geratriz podemos considerar o vetor $\mathbf{q}$ que está entre os pontos $P_0=(0,0,1)$ e $P_1=(0,0,2)$, por tanto \[ \mathbf{q} = (0,0,2) - (0,0,1)= (0,0,1) = \mathbf{k} \nonumber \] assim a parametrização do cilindro será \[ \mathbf{r}(u,v) = a\cos \,u\,\mathbf{i} + a\sin\, u \, \mathbf{j} + v\,\mathbf{k} \nonumber \]
Um cone (generalizado) é uma união de retas passando por um dado ponto $P_0$ (chamado de vértice do cone) e pelos pontos de uma dada curva $\delta$. As retas que passam pelo vértice e pela curva $\delta$ são chamadas de diretrizes e a curva $\delta$ é a geratriz.
Se a geratriz é definida pela curva $\delta(u)$, e o vértice está localizado no ponto $\mathbf{r}_0=(x_0,y_0,z_0)$, então a equação genérica dos cones generalizados tem a forma \[ \mathbf{r}(u,v) = \mathbf{r}_0 + v\, \left( \, \delta(u) - \mathbf{r}_0 \, \right) \nonumber \]
O exemplo mais caraterístico dos cone generalizado é o cone simples: suponhamos que o cone tem seu eixo de simetria ao longo do eixo $z$, nessa circunstância a geratriz está dada pela curva descrita pela equação \[ \mathbf{r}(u) = a\cos \,u\,\mathbf{i} + a\sin\, \,\mathbf{j} + z \,\mathbf{k} \nonumber \] e o vértice está colocado no ponto $\mathbf{r}_0=(0,0,0)$, de forma que a equação genérica para o cone é \[ \mathbf{r}(u,v) = a\,v\,\cos \,u\,\mathbf{i} + a\,v\,\sin\, \,\mathbf{j} + z\,v \,\mathbf{k} \nonumber \] Observe a figura embaixo, a partir dela definimos arbitrariamente como podemos escolher o valor do $z$
Da trigonometria obtemos \[ \sin \alpha = \dfrac{a}{1},\;\;\;\;\;\;\;\;\;\cos \alpha = \dfrac{z}{1} \nonumber \] por tanto, podemos reescreve a equação do cone circular como \[ \mathbf{r}(u,v) = v\,\sin \,\alpha\,\cos \,u\,\mathbf{i} + v\,\sin \,\alpha\,\sin\, \,\mathbf{j} + v\,\cos \,\alpha\, \mathbf{k} \nonumber \]
Vale lembrar que a equação de um cone elíptico está dada por \[ \left( \dfrac{x}{a} \right)^2 + \left( \dfrac{y}{b} \right)^2 = \left( \dfrac{z}{c} \right)^2 \nonumber \]
Uma superfície de rotação (ou revolução) é uma superfície obtida pela rotação de uma curva plana, chamada de geratriz, em torno de uma reta nesse plano, a qual chamamos de eixo de rotação. Exemplo dessas superfícies são a esfera, o toro, o paraboloide, o elipsoide (quando dois de seu eixos são iguais), etc.
As circunferências obtidas pela rotação de um ponto fixo da geratriz em torno do eixo de rotação chamam-se paralelos da superfície de rotação e as curvas obtidas pela rotação da geratriz segundo um ângulo fixo chamam-se de meridianos.
Cada ponto $p$ da superfície é obtido pela rotação, de ângulo $v$, de algum ponto $q$ da geratriz. Se a geratriz está dada por $y=f(x)$, então a superfície obtida pela revolução da curva em torno do eixo $x$ está dada por \[ x = u,\;\;\;\;\;\;\;\;\;\;\ y = f(u)\, \cos\, v,\;\;\;\;\;\;\;\;\;\;\ z = f(u)\,\sin\, v \nonumber \]
A equação cartesiana de uma paraboloide elíptico é \[ \left(\dfrac{x}{a}\right)^2 + \left(\dfrac{y}{b}\right)^2= \dfrac{z}{c'} \nonumber \]
Consideremos o caso especial onde $a=b$ o que resulta em um paraboloide circular \[ z = c\left(x^2 + y^2\right) \nonumber \] Note que se fizermos $y=0$ teremos uma parábola no plano $xz$ dada por $z=cx^2$, similarmente teremos uma parábola no plano $yz$ quando $x=0$, isto é, $z=y^2$.
Mesmo que o paraboloide seja uma superfície de revolução a escolha do eixo de rotação deve ser a adequada. A equação $z=cx^2$ aponta para se escolher $x=u$, similarmente a equação $z=cy^2$ aponta para se escolher $y=u$, contudo nenhuma dessa escolhas é adequada, observe na figura acima, o eixo de rotação é o eixo $z$, por tanto a escolha certa é $z=u$, nesse caso nos não devemos considera as equações anteriores e sim $x = \sqrt{z/c}$ e $y = \sqrt{z/c}$, feita essa escolha nossa seguimos a receita dada para a parametrização de superfícies de revolução \[ \begin{align*} x =& \sqrt{\dfrac{u}{c}}\cos \,v\\ y =& \sqrt{\dfrac{u}{c}}\sin \,v\\ z =& u \end{align*} \] onde $0\leq u < \infty$ e $0\leq v \leq 2\pi$
Quando temos uma superfície definida de forma explica, tipo \[ z = f(x,y) \nonumber \] podemos recorrer à parametrização trivial, isto é, definimos $x=u$ e $y=v$, dessa forma obtemos uma curva superfície definida por $z=f(u,v)$. Um exemplo típico deste fato é o paraboloide o qual está definido de forma explicita \[ z = c\left(x^2 + y^2\right) \nonumber \] e que podemos parametriza como \[ \begin{align*} x =& u\\ y =& v\\ z =& c\left(u^2 + v^2\right) \end{align*} \] neste caso os limites ficam definidos como $u\in \mathbb{R}$ e $v\in \mathbb{R}$.
Sendo mais específicos podemos repetir o exemplo 1 do paraboloide como \[ \begin{align*} x =& u\\ y =& v\\ z =& 2\left(u^2 + v^2\right) \end{align*} \] Como $z_{max} = 8\Rightarrow u^2 + v^2 \leq 8$
Além das superfícies aqui apresentadas podemos explorar a parametrização dos tubos, muito estudada em outras universidades.